segunda-feira, 14 de setembro de 2009


Fotógrafo, poeta e voluntário
O MEU AMIGO DANIEL

[Texto e Fotos: Alexandre Correia]

Penso frequentemente no que é a amizade entre pessoas e um destes dias dei comigo a reconhecer um dado curioso: cada viagem que fiz a Angola, e já foram várias, regressei com um novo amigo. Não na bagagem, mas sim no coração. E convém deixar bem claro que eu não faço amigos instantâneos, como quase toda a gente que eu conheço, que regressa de férias e fala do guia que os acompanhou como se fosse um amigo do peito, daqueles que cresceram connosco, mas que umas semanas mais tarde já nem se lembram do nome do “coiso”. Sempre aprendi a distinguir amizade de conhecimento. O que não quer dizer que não use e abuse igualmente da palavra amigo sem ter esse sentimento.
Daniel Vika é um dos meus amigos angolanos. Conhecemo-nos em cima de uma ponte, nos arredores de Sumbe, sul de Angola, quando olhava para o rio e imaginava uma forma diferente de registar uma imagem clássica, de um grupo de mulheres, rodeadas por imensas crianças, a lavar roupa junto à margem. Vi que ele tinha equipamento compatível com o meu e estava a usar uma objectiva mais pequena. Era o que me dava jeito para a fotografia em que estava a pensar e não me fiz rogado: pedi-lhe a lente emprestada. Foi assim que comecei a falar com o Daniel Vika. Trocámos de lentes por um instante e ele ficou encantado com a qualidade da minha objectiva, pesada, muito luminosa e com um alcance superior. Percebeu a diferença entre equipamento amador e profissional. E ficou morto de curiosidade por ver o que eu tinha feito com a objectiva dele. Vi logo que gostou. Os olhos dele até brilharam. Visionou várias vezes aquelas fotografias e foi tentar fazer iguais. Ficaram parecidas, mas ainda lhes faltava qualquer coisa. Tinham diferenças profundas na luz captada. Senti que ele estava consciente de que havia diferenças, mas não conseguia descobrir o que fazia essa diferença. Podia tê-lo confortado, dando-lhe uma palmada nas costas ao mesmo tempo que lhe dizia “— Parabéns, estão igualzinhas!” E assim, talvez ele nunca na vida conseguisse fazer uma foto, uma só, como as minhas. Mas não fiz isso. Desde miúdo, ainda nos bancos da escola, descobri que talento cada um tem o seu, ou simplesmente não tem, mas técnica só não tem que não quer, pois basta estudar. Quantas vezes não fiz trabalhos para colegas que nesse dia tiraram uma nota incrível, a que precisavam para ganhar “aquele” prémio dos Pais, mas que não voltaram a ter uma nota assim, precisamente porque só lhes emprestei o meu talento e por muito que tivessem estudado, continuava a faltar-lhe esse elemento, essencial para atingirem o patamar de notas onde eu os tinha feito chegar, um dia. Este era um caso assim. Já tinha emprestado o meu talento, ao permitir-lhe que visse os enquadramentos que eu tinha escolhido, mas ele nunca tinha estudado a técnica. Então ensinei-lhe o que ele tinha mesmo de saber para não voltar a cometer o erro em que persistia, e que o levava a queimar, por excesso de luz, muitas das suas fotografias. Quando ele percebeu que era mesmo isso, sentiu-se tão contente, tão motivado, que nunca mais parou de esforçar-se por fotografar tudo e mais alguma coisa, de todas as maneiras, para perceber por si mesmo quais os enquadramentos que melhor resultavam perante cada cenário, cada situação. Creio que Daniel não evoluiu muito mais do ponto de vista técnico, mas fiquei contente por verificar o seu empenho em desenvolver algum talento. Definitivamente, senti que tinha valido a pena ajudá-lo. E não me custou nada. Rigorosamente nada. Só fiquei a ganhar. Ganhei um amigo, que passou a tratar-me carinhosamente por mestre.
Ao princípio, Daniel tinha como que uma paixão por mim. Coitado, fazia-me sentir perseguido, tal a vontade de mostrar-me o trabalho dele, tal a curiosidade em espreitar o meu. Fazia-o de uma forma tão inocente e tão entusiastica que eu acabava por me sentir mal quando o mantinha à distância. Lembro-me de uma vez, em que fui apanhado de surpresa pela abordagem e não tive tempo de inventar uma desculpa consistente para me livrar dele, que só me ocorreu pôr um ar muito sério e distante, convencendo-o que estava a meditar. Fui tão convincente que ele até ficou embaraçado por achar que me podia estar a incomodar. E deixou-me ali a meditar, no meio de um pomar lindíssimo, cheio de pés de maracujá, na região que outrora era conhecida por Colonato da Cela. Daniel já era meu amigo e foi nesse dia que eu passei a ser amigo dele. E senti-me tão envergonhado por tê-lo enxotado que fiquei zangado comigo. Interroguei-me mesmo se não o tinha magoado, pois achava que tinha sido bastante rude. Arrependi-me e eu detesto arrepender-me do que faço. Até porque sempre achei que o está feito já não se desfaz. E sei que ficamos magoados quando somos enxotados pelos amigos, quando não têm paciência para nos aturar. Mas a inocência dele tranquilizou-me a consciência. Acreditara tão bem na minha desculpa que também ele tinha ficado envergonhado, por me estar a incomodar nesse momento de meditação. E não precisou de muito tempo para perceber quando é que me incomodava, para deixar de fazê-lo. Um ano depois, reencontrámo-nos em Luanda para fazermos uma nova viagem através de Angola e recebeu-me com um abraço caloroso, carregado de afecto, daqueles que só damos mesmo às pessoas de quem gostamos muito. E nem sempre. Nesse abraço, compreendi que sim, que a amizade entre nós tinha ganho o direito de chamar-se amizade.
Ao longo da vida, chamamos amigo a centenas e centenas de pessoas que vão passando por nós, que se cruzam no nosso caminho, ou até com quem simplesmente contactamos ocasionalmente. Nem sequer é preciso que esses contactos nos tenham marcado, tão pouco que essas pessoas tenham sido realmente simpáticas connosco. Basta que esses contactos não tenham sido antipáticos para que, ao referirmo-los, digamos que “somos amigos”. E quando se trata de pessoas importantes, como normalmente classificamos aqueles que detêm uma elevada posição social, uma rica conta bancária ou desempenham um cargo relevante — diremos muito importante nos casos, mais raros, em quer tudo isto se adiciona... — costumamos mesmo acentuar a palavra amigo, para que quem nos ouça não tenha dúvidas em como somos mesmo amigos. E sentimo-nos vaidosos, até um bocadinho importantes também, quando os nossos amigos metem aquele olhar de respeito por saberem que somos amigos de fulano, o tal que é muito importante. Mas nunca hei-de esquecer-me de uma noite em que jantei com um amigo, que me conhecia tão bem que passámos a noite toda a conspirar contra mim. Ele dizia mata e eu acrescentava logo esfola. Nunca disse tanto mal de mim a mim próprio como nessa noite, aliás, divertidíssima. E não sei se esse meu amigo alguma vez descobriu com quem jantou...
O Facebook é o melhor exemplo disto. Criaram-me uma conta e num ápice, sem que me tivesse apercebido, já tinha reunido um leque de amigos impressionante. Alguns nem sei se os cheguei a conhecer pessoalmente, embora a esmagadora maioria sejam, na verdade, pessoas com quem já convivi. O que tenho em comum com quase todos estes amigos é, ou foi, contactos profissionais. Sobre muitos, para além da profissão e das funções que desempenham, não sei mais nada. Nunca calhou. Alguns, por acaso até calhou e ao rever as suas fotografias na lista de amigos do Facebook recordo-me de termos estendido conversas para além dos assuntos profissionais, não raras vezes para temas tão interessantes que fizeram com que a nossa mesa tivesse sido a única em que ninguém se levantou depois de ter sido servido o café, no final de um jantar de convívio, como tão frequentemente sucede após uma jornada de trabalho. Foi assim que nasceram algumas amizades que perduraram no tempo e que continuo a considerar. Refiro-me agora aos amigos que passaram a fazer parte da minha vida. Como se fossem irmãos. Com os quais, por vezes até, trocamos confidências que nem fazemos com os próprios irmãos. Família é família. Não a escolhemos. Já os amigos, sim, são escolhas que fazemos. É um lugar comum que não gosto de usar, mas reconheço que é assim mesmo. E sou amigo dos meus irmãos todos. Mas tenho mais alguns, que são só amigos, mas tão amigos como os irmãos. Os amigos são os que nós adoptamos. E isso não quer dizer que eles também nos adoptem, nem mesmo que sejam nossos amigos. Como nós somos deles. Há até amigos que, no fundo, nem conhecemos realmente, mas que nem por isso deixamos de considerá-los amigos, neste sentido de estarmos disponíveis para eles, de termos toda a paciência e mais alguma, de nos envolvermos nos seus problemas, de nos preocuparmos com eles, de sentirmos um aperto no coração quando não estão bem.
E porque será que somos sempre todos amigos? Seria mais fácil dizer que por uma questão de hipocrisia generalizada, mas não é. Não é nada disso. Isso só é verdade quando olhamos para alguém de quem não somos amigos e lhe chamamos isso. Em todas as outras circunstancias somos todos amigos simplesmente porque se criou como que uma convenção. É uma forma de falar, simpática, mas mais nada. Apenas porque na verdade todos nos sentimos algo desconfortáveis por não chamarmos amigos às pessoas que conhecemos e fazemo-lo mais para deixar claro que não são inimigas.
Quando comecei a dizer que Daniel Vika era meu amigo, já sabia que ele sim, gostava de mim como amigo. Mas à medida que o fui compreendendo também eu passei a gostar dele. Por vezes, é um chato. Eu também. Ainda gosto mais dele por isso. Os chatos têm como que o dever de apoiar-se. E achar isso fez-me desenvolver uma paciência notável. E raramente perco a paciência. Muito menos com os amigos. Mesmo quando me magoam, mesmo quando não têm paciência. Aos amigos não regateamos defeitos. Aceitamo-los como eles são e pronto. Eu tenho imensos defeitos. Daniel também. Mas também tem um coração enorme e esforça-se tanto para conquistar amizades que até abusa de voluntarismo. E depois magoa-se. Quando percebe que esses momentos, em que se sente um herói para quem todos olham, passam num instante. Daniel é uma poeta. À sua maneira, claro, que nem todos os que com ele convivem apreciam. Estimular essa poesia tem sido a maior maldade que tenho feito aos que não a apreciam. Eu preferia que Daniel se concentrasse na fotografia. Mas ele gosta tanto da sua poesia que maior maldade era matar-lhe essa paixão. O maior embaraçado que lhe causei foi quando, há uns meses, lhe nasceu mais um filho. Estávamos juntos, em Angola, e disse-lhe que como somos amigos, das duas uma: ou me escolhia para padrinho do bebé, ou dava-lhe o meu nome. Coitado do Daniel, que andou aflito durante uns dias, sem coragem de dizer que já tinha as suas escolhas feitas e nenhuma me contemplava. Assim, continuámos apenas amigos. Mas podíamos ser compadres. Ainda podemos vir a ser.


Voluntarioso como poucos, Daniel não hesitou em despir-se para se meter dentro um lamaçal e ajudar a desatascar alguns veículos que tinham ficado retidos na lama. Só nunca largou a sua Nikon.

De máquina fotográfica na mão, Daniel posa no meio do capim, num admirável fim de tarde no Parque Nacional de Iona, bem no sul de Angola. Tínhamo-nos conhecido há uns dias e já me tratava por mestre. E queria que eu fosse amigo dele. Ainda não era...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009


“...Tomar banho de cueca ou nu”
EXPRESSAMENTE PROIBIDO

[Texto e Fotos: Alexandre Correia]

O aviso era bem claro: “Expressamente proibido tomar banho de cueca ou nu”. E acrescentava que “só de fato de banho ou calção”. Quem chega às piscinas de Conda depara com este aviso, cuidadosamente escrito em letras maiúsculas pintadas de branco num painel preto, para que o contraste seja absoluto e a leitura tão fácil que não possa passar despercebida. As piscinas são o orgulho de Conda, uma vila perdida no sul de Angola, não muito longe da cidade de Gabela. Digo piscinas porque há dois “complexos” balneares distintos, cada qual encaixado no seu vale, nos arredores da povoação, onde a água que saí quentíssima das nascentes a meia encosta da serra já chega apenas quente. A primeira vez que passei por lá fui à piscina maior e felizmente que tinha calções de banho comigo, porque consolei-me a banhar-me demoradamente naquela água quente, mais a atirar para o morna, que sabia deliciosamente bem naquela altura, porque o tempo ainda estava fresco. Quando voltei, fui às piscinas mais pequenas e percebi que chamar-lhes piscinas era apenas uma simpatia, talvez para que aquela comunidade não se sentisse inferiorizada perante a grandiosidade das verdadeiras piscinas da freguesia vizinha. Na realidade, não passavam de dois tanques, cheios de água até à altura dos joelhos, mas que, precisamente por serem pequenos, tinham a particularidade de manter a água bem mais quente, a uma temperatura que não chega para arrancar a pele, mas que é um castigo num dia de calor como aquele. Desta vez, felizmente que não tinha os calções de banho à mão, porque assim nem me senti tentado a experimentar o sofrimento de uma santola quando a deitamos viva numa panela cheia de água ao lume. Parece que a pobrezinha ainda sofre um pouco antes de despertar tanta alegria a quem a comer, mas há uns anos um Chef confidenciou-me um truque para minorar este sofrimento. Consiste em fazer exactamente o contrário, ou seja, meter a santola no congelador durante uma meia-hora antes de ir para a panela, porque o frio mata o bicho de uma forma mais suave; não morre cozido, mas morre de frio, literalmente. E mesmo que eu estivesse a morrer de frio, sem os calções de banho juro que não arriscava uma banhoca no tanque. Já lá vai o tempo em que bastava ler o “expressamente proibido” para ficar logo com vontade de quebrar a interdição, como se fosse um desafio. Com o tempo, aprendi que não era. Era meramente desobediência, arrogância, falta de respeito. Não que me tenha tornado um cordeirinho manso, pois há interdições e regras inaceitáveis, que se as respeitarmos é como se assumissemos a sua validade. Agora, não era o caso. Tratava-se meramente de uma regra de costumes. E bastou ter lido o aviso para ficar elucidado e não querer repetir o embaraço que passei três anos antes na ilha de São Tomé, quando fui detido por atentado ao pudor — uma acusação forte, daquelas que ninguém tem orgulho em contar. A minha mãe teria desgosto se soubesse que eu tinha sido detido pela policia, mas não sei se conseguiria resistir ao choque de saber o motivo. Pensei no seu coração fraco e nunca lhe contei. Felizmente que o Chefe Bernardo Ramos — chefe com é, porque este era policia, não chef da cozinha —, a autoridade máxima do posto policial de Neves, no norte de São Tomé, revelou-se um homem compreensivo, mas quando mandou parar o meu jipe numa operação stop à entrada da vila e a primeira coisa que disse, assim que me abordou, foi “Está detido” (a segunda foi “Avance até à esquadra e estacione no quintal da policia”), só pensei que tinha o dia estragado. Claro que não avancei para o quintal da policia sem saber o motivo da detenção. E então é que me convenci que estava em apuros: tinha sido apanhado a conduzir em tronco nu! Um policia ainda meteu a cabeça janela adentro e espreitou-me descaradamente para ver se era só o tronco que estava nu, mas mesmo depois de ter indicado ao Chefe Ramos que eu tinha calções de banho vestidos, não me livrei de seguir para a esquadra. Não fosse eu tentar fugir, o Chefe Ramos mandou dois policias acompanharem-me no caminho, seguindo pendurados nos estribos laterais do meu jipe, enquanto o próprio Chefe vinha atrás, no Land Rover oferecido pela Policia de Segurança Pública portuguesa. Ao ver todo aquele aparato, a população de Neves não resistiu à curiosidade. Quando cheguei à esquadra, no centro da vila, já estava rodeado por uma multidão que, curiosamente, mesmo sem saber o meu crime já reclamava a minha inocência de pedia liberdade. Entrei no portão, arrumei o jipe a um canto do quintal e — sempre escoltado pelos dois policias — fui levado ao gabinete do Chefe, que já me aguardava com um ar grave. Quando lhe vi a expressão do rosto, achei que não me safava sem mais nem menos. Mas depois de lhe estender a mão e de tê-lo cumprimentado pelo seu nome, percebi que a situação não estava fora de controlo. O Chefe Bernardo Ramos, meio intrigado, perguntou-me logo como é que eu sabia o nome dele, mas como pôs ar de quem estava a pensar de onde é que nos conhecíamos, não lhe fiz a desfeita de confessar que simplesmente tinha acabado de o ler na plaquinha azul com letras brancas que tinha presa no bolso da camisa, ambos também provenientes da PSP portuguesa, que devem ter seguido com o Land Rover. Mandou-me logo sentar e começou a explicar-me a gravidade do meu acto, por conduzir em tronco nu. “Ainda se fosse Domingo, dava para para fechar os olhos, porque é feriado, mas nunca a uma quinta-feira”, insistindo que, de acordo com o regulamento, tratava-se de “atentado ao pudor”. Nem mais. Lá lhe expliquei que não Senhor, eu não era desses, de andar por ali a exibir o físico. Claro que não lhe contei que há muitos anos, em Angola, safei-me por uma unha negra de ser vítima de um linchamento popular por, alegadamente, andar a exibir-me para uma funcionária do aeroporto de Namibe, onde eu estava há largas horas a torrar ao sol, esperando pelo avião que me levaria de regresso a Luanda. Estava um calor insuportável e eu tinha acabado de passar por uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida, a única em que duvidei seriamente se alguma vez voltaria a casa, mesmo que dentro de um caixão de chumbo com uma etiqueta no pé a dizer o meu nome. E não foi pela fome e sede que passei, porque até sobrevivi aos dois dias e meio de absoluto jejum. Foi por um braço de ferro com um tipo que esperou pacientemente que eu deixasse de ter as “costas quentes” para me dizer que eu era malandro, mas que ele era muito pior e já estava a perder a paciência. Felizmente que antes disso acontecer fui salvo — é a palavra mais acertada para descrever a situação — por dois portugueses que o tinham ouvido, num bar de Namibe, contar aos amigos o que é que me fazia. E não era nada bom! Os meus salvadores ficaram em pânico, mas a única coisa que sabiam de mim era que eu era um jornalista português que andava por ali desgarrado. Procuraram por toda a cidade — nem as casas de putas escaparam à busca — e nada, ninguém tinha visto nenhum português que não fosse conhecido na terra. Às tantas, só lhes restava ir ao aeroporto e pegaram-se numa discussão, porque um insistia em esgotar todas as possibilidades, enquanto o outro contrapunha que não fazia sentido, porque só havia avião dois dias depois e o aeroporto estava fechado; ainda para mais o aeroporto está isolado já no deserto, a alguns quilómetros da cidade. Ganhou o que defendia que devia procurar até ao fim, mas quando os vi chegar ao aeroporto, num velho camião militar, o meu coração disparou. Já era noite, bem tarde e pensei que a minha carreira acabava ali. Na escuridão, nem consegui distinguir mais do que os dois vultos, que antes de se aproximarem perguntaram se eu é que era o jornalista português. Fechei a mão e fui pensando quantos dentes seria capaz de partir ao primeiro que me agarrasse, mas disse que sim. A tensão acabou ali mesmo, porque ficaram eufóricos e levaram-me logo dali, recolhendo-me num hotel de contentores instalado numa ponta da cidade, junto ao mar, que estava ocupado pelas forças da UNAVEM II, a missão das Nações Unidas que nessa altura observava a situação em Angola, vivia-se então a paz podre trazida pelos célebres Acordos de Bicesse, rubricados sob os auspícios de José Manuel Durão Barroso, que então era ainda um mero Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros do Governo português e, provavelmente, nem sonhava sequer que um dia seria Presidente da União Europeia. O milagre seguinte foi arranjarem-me um bife e depois uma cama lavada, para redescobrir esse prazer, bem como o de um duche. O mais incrível deste episódio é que ao conversarmos descobri que um deles era pai de um amigo que tinha em Lisboa! Dois dias depois, no dia do avião, tiveram de deixar-me no aeroporto de manhã cedo, embora o voo só estivesse previsto para meio da tarde. Fiquei ali ao sol e às tantas pus-me em calções. Até que, de repente, uma funcionária começou aos gritos e num instante fiquei rodeado de gente, no centro de um ambiente ameaçador. Só então percebi que a gritaria tinha a ver comigo e que estava a ser acusado de andar ali a exibir-me para a Senhora. Fiquei horrorizado. Duplamente horrorizado, porque para além da situação estar quase incontrolável, juro que nunca na minha vida serei capaz de assediar uma mulher como aquela. Nem que quisesse castigar-me rudemente escolheria uma punição como ela. Seria demasiado atroz. Mas não quis ferir o orgulho à Senhora e perante a acusação, decidi retractar-me, pedindo-lhe desculpa publicamente e, claro, voltando a vestir-me. Fui tão convincente a justificar-me e a pedir desculpa que imediatamente senti o perdão popular e de nada serviu à minha agressora — tive pesadelos com ela durante muito tempo — continuar a reclamar que eu devia ser castigado. Eu é que me fartei de pensar como é que a castigava e foi um exercício tão violento que nunca hei-de contar o que me passou pela cabeça. Em São Tomé, na esquadra de Neves, este filme surreal passou-me todo pela cabeça enquanto o Chefe Ramos expunha os motivos da minha detenção. Bem, pelo menos desta vez o atentado ao pudor não metia assédio. E expliquei-lhe que tinha acabado de sair da Praia das Conchas, ainda vinha a escorrer água pelo corpo e como me dirigia para outra praia mais adiante, inocentemente achei que ninguém repararia que ia de peito ao léu. Como a minha mãe sempre me ensinou, valeu a pena dizer a verdade, porque o Chefe Bernardo Ramos aceitou a explicação e decidiu ser benevolente face a uma confissão tão expontânea e sincera. Foi então que desatámos na conversa e não tardou a que nos ficassemos a conhecer como velhos amigos. Quando saí da esquadra, gentilmente acompanhado pelo Chefe, tinha a certeza que da próxima vez que nos encontrarmos nem ele vai interrogar-se de onde é que nos conhecemos, nem eu precisarei de ler a plaquinha para saber o seu nome. Já éramos amigos e pronto. Os meus companheiros, mais respeitadores dos bons costumes, porque tinham vestido t-shirts, esperaram nervosissímos à porta e nem dizendo a verdade os convenci que não tive de pagar nada ao Chefe para ser solto. É irónico como grande parte das pessoas critica tão violentamente a corrupção, mas quando se vêm numa situação desconfortável, nomeadamente perante autoridades, são os primeiros a tomar a iniciativa de negociar uma saída airosa. Nessas alturas, que se lixe a justiça e se têm razão. Interessa é salvar a pele e oferecem logo uma recompensa para garantir isso. E depois de safos, são os primeiros a acusar, a denunciar que a única justiça que funciona é a do suborno. Esta cultura está tão enraízada que o impresso da declaração de imposto sobre o rendimento, vulgo IRS, tem até uma alínea para os contribuintes declararem “luvas, gratificações, etc...”. Sempre me interroguei se alguma vez as Finanças registaram uma declaração, ao menos uma só, que indicasse uma verba nesta alínea, como se fosse normal “receber dinheiro por fora”. Até é, mas disso também toda a gente se esquece, a menos que seja para acusar os outros. Naquela meia-hora que passei fechado no gabinete do Chefe da esquadra só falámos. De justiça, do tempo incerto, que ora abria o sol, ora parecia que o céu ia desabar-nos na cabeça, da fábrica de cerveja quase em frente, que uns espanhóis tinham comprado pouco tempo antes, e das bebedeiras que os homens de São Tomé apanham tão frequentemente, sobretudo depois da hora do almoço, nas povoações mais longe da cidade. Mais com Vinho de Palma, que basta fazer sangrar uma palmeira e depois deixar fermentar essa seiva até ficar docinha, do que com cerveja, que tem de pagar-se e nem toda a gente tem dinheiro para isso. Não foi preciso muito tempo para o Chefe admitir que havia coisas bem mais graves do que andar a guiar de tronco nu e todo molhado. Só lhe dei dois apertos de mão. Mais vigoroso o da despedida. E fi-lo compreender a insensatez da acusação que pendia sobre mim. Felizmente, o Chefe Bernardo Ramos era compreensivo. Como compreensivos foram os policias de Conda, que nos abriram caminho até às piscinas e fizeram vista grossa à interdição de tomar banho de cueca, porque foi mesmo assim que um dos meus companheiros desta viagem entrou para dentro do tanque...


Como o sol estava quente, os policias recolheram-se na sombra e "não repararam" no banhista que violou o regulamento e meteu-se dentro de água... em cuecas. Bem, sempre não estava nu, que isso devia ser mais difícil de não reparar...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


A Minha Peregrinação a Muxima
UM APERTO NO CORAÇÃO

[Texto e Fotos: Alexandre Correia]

Se todas as peregrinações aos santuários religiosos têm de ter uma dose de sofrimento, a minha visita a Muxima foi perfeita, até porque menos dolorosa que as outras que me ocorrem na memória. Antes de tomar o caminho para aquele que é considerado o maior e mais importante santuário dedicado ao culto mariano da África Austral, parei à saída da vila de Catete, na bifurcação com a estrada para Cabala. O dia estava mesmo a terminar e parei para ver o sol desaparecer por entre os enormes embondeiros que se estendem a perder de vista, gravando de novo mais uma daquelas imagens lindas que povoam a memória de quem alguma vez andou por estas paragens de Angola. Um belo pôr do sol, como são quase todos, quando o sol parece uma grande bola de fogo alaranjada que tinge o céu de vermelho, ao reflectir os últimos raios de sol nas nuvens. Mas neste caso, não era um belo e banal pôr do sol, porque a este cenário que podemos apreciar em qualquer lugar, juntavam-se os embondeiros, que não há senão junto à costa ocidental africana, entre esses dois desertos que tantas vezes já atravessei, o do Sahara e o de Namibe. Olhei para esses embondeiros até a escuridão lhes apagar os contornos e tornarem-se apenas uma mancha negra, meio sinistra, com os ramos a recortar o céu como as árvores do território da bruxa má das histórias de crianças — que servem para lhes exemplificar a figura do mal, como a que começa a assustar a minha filha mais pequena. A mim, não é isso que me assusta, que já conheci tantas bruxas más que já não há maçã que me envenene. Arrepia-me sim é olhar esses embondeiros na penumbra e ver os seus frutos pendurados nos ramos, como se fosse ratazanas presas pela cauda.
Estava na hora de partir. Mas não por ter passado da visão romântica dos momentos ao pôr do sol para esta tão sinistra, que chegou com o crepúsculo. Para além de já serem horas, o que me fez voltar à estrada foi ter começado a ser devorado, cruelmente devorado, por um enxame de mosquitos, provavelmente insectos infiéis, que não se fizeram rogados quando encontraram um crente como eu. Seria o sofrimento a pagar por mais esta peregrinação? Bem, nunca fui ao ponto de atravessar a Cova da Iria de joelhos, nem de fustigar-me nas costas ou pregar-me numa cruz como fazem nas Filipinas, mas recordo velhas peregrinações que tiveram o seu quê de sofrimento. Sim, que a visita de estudo ao Santuário de Fátima, em 1974, quando ainda estava na quarta classe, marcou-me profundamente, sobretudo pelas palmadas que apanhei quando cheguei a casa, por ter-me portado mal. Para além disso, no ano passado o acaso levou-me a Lourdes, França, onde também o acaso me impôs um desagradável jejum. E por falar em Lurdes, foi a fé que me fez conhecer uma, já lá vão alguns anos, quando num cruzeiro pelo Mediterrâneo, após dois dias de escala em Civita Vechia, o porto mais próximo de Roma, onde todos os caminhos me levaram ao Vaticano, nos cruzámos pela primeira vez ao desembarcar para ir visitar um antro de pecado e vício, que dá pelo nome de Principado do Mónaco; quando nos conhecemos tive aquele sentimento de ter visto uma aparição e a verdade é que esse foi um encontro de fé — tanto mais que ela por momentos acreditou que eu era mesmo o capelão do paquete e estava quase a confessar-se quando um tripulante que andava apaixonadíssimo se empenhou em desfazer aquela piedosa mentira; bem pelo menos o rapaz ficou feliz, embora não lhe tenham servido de nada as orações… Eu, pela minha parte, acabei, uns dois anos mais tarde, por acompanhá-la à igreja, ao seu casamento, o dela, não o meu, que mal sabia me estava guardado na mesa dos solteiros, com reserva para os seis anos seguintes. Ali parado, como que embalado pelo suave pôr do sol, adormeci nestes pensamentos — é tão estranho como por vezes nos vêm à cabeça memórias tão díspares e como as ligamos entre si… — e só os mosquitos me acordaram para a realidade. Arranquei ainda a sonhar, ouvindo dentro de mim aquela velha canção que o Duo Ouro Negro popularizou, no tempo em que quando me portava mal só apanhava palmadas e que, mais recentemente, Waldemar Bastos me encantou, numa interpretação ao vivo, em Amesterdão. É a “Muxima”, um verdadeiro hino, feito a partir de um poema de Carlos Aniceto Vieira Dias, que este poeta angolano escreveu em quimbundo e que assim sempre foi cantado, ainda que o Duo Ouro Negro traduzisse parte do refrão, para mais fácil compreensão do seu significado. Nunca o fixei exactamente, até porque, confesso, tardei em tornar-me apreciador, mas recordo-me que falava da própria lenda da Muxima, enquanto lugar sagrado, onde o mal não entra. Não entra?
Arranquei a entoar para mim próprio “Muxima ue ue, muxima ue ue, muxima” e os quilómetros passaram a correr. Sem dar por isso, já estava a atravessar a Cabala, onde se atravessa o rio Cuanza por uma longa ponte flutuante, que dá acesso ao estradão de terra que segue até Muxima. Nome tão estranho para uma povoação. Segui caminho a pensar nisso, a imaginar qual dos significados tinha estado na origem desta nada honrosa designação. Para os hebraicos — qabbalah — Cabala remete para a mística, para o esoterísmo, para uma tradição dessa natureza que está ocultada num sentido secreto da Bíblia. E se isso é intrigante, o certo é que para os franceses esta palavra — cabale — quer dizer simplesmente intriga. Nem mais! E para os angolanos? O significado de cabala em quimbundo não é menos simpático: sovina. Antes Muxima, que em quimbundo quer dizer coração.
A vila de Muxima nasceu nos primórdios da colonização portuguesa do interior de Angola. Foi aí que se implantou um presídio em 1599, o segundo entre os vários estabelecidos junto ao rio Cuanza, depois do de Massangano. E como era tradição, ao mesmo tempo que no cimo de um morro foi construída uma fortaleza, por baixo, num amplo terreiro junto à margem esquerda do Cuanza, ergueu-se uma igreja, devotada a Nossa Senhora da Conceição. Curiosamente, talvez a proximidade entre a Cabala e Muxima também possa ter um significado oculto, pois há mesmo quem defenda que a origem deste santuário é uma cabala. Essa foi a minha conclusão quando, entre centenas e centenas de textos que abundam sobre o tema nas páginas da internet, grande parte escandalosamente copiadas umas das outras, até porque coincidem sempre nos mesmos erros, houve uma que me captou a atenção, precisamente por defender esta tese de conspiração. Não resisto a transcrever um trecho, que sustenta que “os colonizadores terão edificado o templo católico sobre o local sagrado dos povos locais, como forma de mostrar o seu poder e submetê-los psicologicamente”, salientando o mesmo autor, anónimo, que “a dominação dos deuses de um povo tem sido uma técnica de submissão dos povos usada por várias potências imperialistas ao longo da história da humanidade”. Ao ponderar sobre uma visão assim tão sombria, mal cheguei a Muxima decidi pôr de lado o religioso e atirar-me ao profano. Pior, fui mesmo direito ao pecado, entregando-me aos prazeres da carne. Uma grelhada mista, acompanhada por Cucas fresquinhas e muita conversa, que rapidamente fizeram esquecer que cabeça poderá estar por trás de semelhantes pensamentos? Bem, é a mesma cabeça que também diz, a propósito desta região, que “é uma zona de forte tradição de magia e bruxaria, pelo que o "surgimento milagroso da capela" terá sido uma demonstração de poder de Maria sobre as outras poderosas da área”. Para que estas revelações não me atormentassem o sono, decidi afogá-las em mais Cucas fresquinhas, até porque este texto, digamos que esotérico, concluí com uma afirmação que me deixou gelado: “Não raramente pessoas há que vão à Muxima para entregar-lhe a vida de alguém.” Cruzes, canhoto!
Como visitei a Muxima em Junho, antecipei-me à grande peregrinação anual, que se tornou tradição em 1833 e que este ano ficou marcada para os dias 4 a 6 de Setembro. Assim, ao invés de encontrar mais de 150 mil pessoas na vila, entre fieis e infieis, crentes e descrentes, vendedores e compradores, policias e ladrões, que tornam o lugar tão pequeno que fazem de Muxima um autêntico coração apertado, tinha o santuário quase só para mim. Mais importante do que isso, não precisei de acampar, ou simplesmente dormir ao relento, ali no adro da igreja, porque o novo hotel estava cheio de quartos disponíveis. Cada quarto era um contentor, que veio da China expressamente para permitir abrir em Muxima um hotel instantâneo. Um contentor com todos os requintes, ainda que segundo a tradição chinesa, as coisas fossem todas “mais ou menos”. Por exemplo, o ar condicionado parecia o motor de um congelador e antes morrer de calor que de frio, mas desligá-lo foi um problema. Depois de carregar insistentemente nos botões do comando, descobri que não tinha pilhas. Nem as havia na recepção. Nem nos outros contentores. O pior é que o aparelho também não tinha um interruptor que permitisse desligá-lo manualmente. Mas mau mesmo foi quando descobri que não estava ligado a uma tomada eléctrica, mas sim directamente à instalação do próprio contentor. Era impossível desligá-lo, mas a recepção tinha edredons, bem quentinhos. Antes de deitar-me, até para refrescar os pensamentos e afastar definitivamente aquelas teorias da cabala, pensei tomar um duche morninho. Bem, pensar não custa, mas assim que toquei na torneira do lavatório e fiquei com ela na mão, desconfiei do duche. A torneira da água quente era apenas decorativa, mas a da água fria era autêntica. E a água mesmo fria. Para me castigar, tomei dois duches: um ao deitar, outro ao levantar. Até porque queria apresentar-me limpinho à “Mamã Muxima”, como carinhosamente muitos angolanos chamam a Nossa Senhora da Conceição.
Depois do “mata-bicho”, outra expressão tão angolana — para designar um bom pequeno-almoço, naquele sentido de farto… — avancei finalmente até à igreja. Estava cheia de mulheres. Quase não havia homens. Nesta manhã, nem o padre Mário Torres, um mexicano que é o Reitor do santuário, estava por ali. Nem parecia estar a fazer falta, tal a devoção com que as mulheres enchiam o interior do templo, entregando-se com um fervor intenso, até um pouco arrepiante, a orações e mais orações, muitas de braços abertos, que não escondiam ser sinal de tantos pedidos. Voltei a lembrar-me das teorias intrigantes daquele texto que tinha lido e perguntei a mim próprio se não estaria mesmo certo este desconhecido que escreveu que as pessoas vão à Muxima “na esperança de que esta resolva os seus problemas de saúde que a ciência não tenha conseguido debelar, outros vão pedir que ela lhes traga dinheiro e os livre da pobreza em que vivem”. É provável que peçam tudo isto e muito mais. Mas não é isso que as leva a chegar a este lugar ermo, que é sede do concelho da Quiçama, também ele um santuário, mas da vida selvagem, embora a precisar de uns milagres para ser reabilitado. O que leva ali tanta gente é a fé, essa coisa tão estranha, que nos alimenta a alma e nos dá força. Ali sentado no muro do adro da igreja, a olhar o rio a correr devagarinho, pensei nisso, na fé. E senti um aperto no coração. A mamã Muxima também me ouviu. Agora já podia partir, para atravessar as terras da Quiçama...



Subir até à fortaleza é um ritual obrigatório a todos os que visitam Muxima. Para muitos, vencer essa ladeira íngreme é um sacrifício, mas nada na vida se tem sem sacrifício, pensarão. Outros, sobem apenas para contemplar a paisagem. O que não quer dizer que não passem pelo mesmo sacrifício.


O interior da igreja já estava cheio, só de mulheres, entregues a um estranho frenesim de orações, tal a intensidade dos seus gestos, enquanto rezavam à "Mamã Muxima". E de repente, quando o tom aumentou, fecharam a porta. Para as suas preces não fugirem...

Pormenor da fachada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Muxima. O culto católico chegou ali em 1599, quando foi criado o presídio da Muxima, mas a igreja de pedra e cal esperou quase meio século para ser construída. Quem diria que hoje é considerado o mais importante santuário de culto mariano na África Austral?

Encostado a um mamoeiro, junto ao muro que separa o amplo adro do santuário da Muxima das águas do rio Cuanza. Estava ali a pedir um milagre. A pedir que a "Mamã Muxima" salve o santuário que a envolve: o Parque Nacional da Quiçama.


Dinheiro, saúde, trabalho, amor, justiça, talvez até vingança? Tudo é pedido à "Mamã Muxima". Mas o que faz com que alguém se desloque a este lugar perdido entre duas curvas do rio Cuanza, a cerca de centena e meia de quilómetros de Luanda, tem um só nome. Chama-se fé!