O cemitério dos Reis do Congo e as ruínas da Sé Catedral. M'Banza Congo transpira história e inspira amores tórridos. Recomendo a Pensão Mata-Sol, onde todos são bem vindos e, sobretudo, bem protegidos por um "corpulento" segurança
Recordações fortes do antigo Reino do Congo
A CATEDRAL MAIS ANTIGA A SUL
DO SAHARA E OS LENÇÓIS LAVADOS
NA PENSÃO MATA-SOL
[Texto e fotos: Alexandre Correia]
São Salvador do Congo - era assim que se chamava a capital do antigo Reino do Congo, que desde o final do século XV estabeleceu uma relação invulgar e muito especial com a coroa portuguesa. Depois de uma primeira visita de Diogo Cão, em 1482, muitas outras se seguiram e os próprios monarcas congoleses viajaram até Portugal, que passou a exercer uma importante influência neste reino africano, desde logo convertido ao cristianismo. Nessa época, o Reino do Congo dominava uma vasta área da África Austral, delimitada a norte pelo actual Gabão e a sul pelo norte de Angola. Da imponência que conheceu nesse tempo restam as memórias transcritas pelos historiadores e as ruínas da velha Sé Catedral, considerada o templo católico mais antigo entre todos os que foram construídos a sul do deserto do Sahara; foi erguida em 1491 e só o telhado não sobreviveu à passagem dos séculos, pois as suas grossas paredes de pedra ainda continuam de pé e aparentam uma impressionante solidez. Mesmo ao lado, estende-se o cemitério real, onde apenas têm lugar as campas dos sucessivos Reis do Congo, todos eles com nomes portugueses - reflexo dessa profunda influência que, aliás, acabou por absorver parte do seu território no de Angola, quando no final do século XIX tivemos de definir fronteiras coloniais. Hoje, esta cidade chama-se M'Banza Congo e embora não seja verdadeiramente a mais importante da província angolana do Zaire - perdendo esse estatuto para Soyo, na foz do rio Zaire - é a capital provincial. Bem no norte de Angola, a somente 60 quilómetros da fronteira com a República Democrática do Congo, M'Banza Congo vive muito do comércio estimulado pela proximidade do país vizinho, sobretudo numa altura em que se acentuam as diferenças: tudo escasseia do lado da RDC, ao contrário do que sucede do lado angolano, onde não faltam os bens essenciais, nem muitos outros que são perfeitamente dispensáveis. Esta escala, no intervalo entre a terceira e quarta etapas do 4º Raid T.T. Kwanza Sul, deixou marcas fortes, que talvez nunca venha a esquecer. Ali pude sentir o peso da história e do passado já tão distante do Reino do Congo, mas o mais marcante foi a pernoita nesta cidade. Depois do agradável jantar numa esplanada no centro, fui conduzido por um guia de moto até ao alojamento que me estava reservado, numa pensão quase nos subúrbios onde bastou consultar a tabela de preços para perceber qual o tipo de clientela que normalmente frequentava o estabelecimento, bastante discreto, no que diz a salvaguardar a identidade dos hóspedes face aos curiosos: uma hora de amor custaria-me 1500 Kwanzas, mas se demorasse mais tempo seria penalizado com um adicional de 2500 Kwanzas pela segunda hora. Para dar uma ideia do valor em euros, basta cortar os zeros à direita, mas convém acrescentar que estes números não compreendem senão o alojamento; a companhia é paga à parte e, a bem da verdade, não era fornecida no local. Dado o carácter desta unidade, os preservativos eram por conta da casa e devo dizer que, a julgar pela quantidade que me dispensaram, anteviam uma noite ardente. O problema é que eu somente queria tomar um belo banho e cair na cama para um sono pesado, mas a casa de banho estava num estado tal que nem me atrevi a entrar e desisti de ali ficar quando o gerente, muito simpático e deveras atencioso, expressou a sua empatia comigo ao confiar-me o conjunto de lençóis mais limpos que tinha, escondidos num armário do seu escritório. Arrepiei-me todo quando ele me segredou que aqueles lençóis só tinham sido usados uma vez e deixei-o desconsolado quando parti, disposto a dormir dentro da pickup. Mas, estava escrito que isso só iria acontecer mais tarde, porque nesta noite acabei por ir parar à "magnífica" Pensão Mata-Sol, noutra extrema de M'Banza Congo, onde o gerente também guardava a roupa da cama e os atoalhados no seu escritório, mas tinha pilhas deles a tresandar a detergente, para que não houvesse dúvidas em como ali se privilegiava o asseio. Ali também uma hora de "descanso" era cobrada a 1500 Kwanzas, mas a noite toda eram só 5000 Kwanzas e ainda tive direito a um cheiroso sabonete Lux, para sentir-me uma estrela de cinema enquanto me esfregasse no banho.
Alex, estou adorando o seu blog também. Fotos fantásticas, histórias incríveis, parabéns! Essa história da pensao para dormir, divertidérrima! bjs!
ResponderEliminarO sabonete Lux é um pormenor delicioso. Também me cruzei com ele em terras mais a sul, mais concretamente, em Ganda.
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