terça-feira, 23 de junho de 2009


Uma jornada do Soyo a M'Banza Congo
DA NOITE PARA O DIA

[Texto e Fotos: Alexandre Correia]

É costume dizer-se a propósito de coisas completamente diversas, que são como "da noite para o dia". No caso do percurso que levou a caravana do 4º Raid T.T. Kwanza Sul do Soyo a M'Banza Congo, a frase aplica-se quer neste sentido figurado, quer ainda no seu sentido literal: depois de uns dias antes termos cumprido de noite grande parte dos 195 quilómetros finais da ligação até Soyo, após o regresso de Cabinda foi pela manhã que repetimos esse itinerário, sentindo que o estávamos a descobrir pela primeira vez. Este troço foi desde a antiga cidade de Santo António do Zaire até à Casa da Telha — nome sugestivo para um lugar que nasceu no entroncamento da estrada que vem de N'Zeto e que aí se divide para Soyo, sempre junto à costa, e para M'Banza Congo, subindo rumo ao norte pelo interior. Os lamaçais aterrorizantes da travessia nocturna eram agora passagens que não despertavam o mais pequeno temor, antes parecendo pontos de diversão, onde apetecia pisar no acelerador para deixar as Nissan Hardbody submersas num leque de água lamacenta, que depois de secar ocultou a decoração de cada uma destas pickup's e camuflou até a cor original de algumas, que só ficaram com o pára-brisas limpo e apenas na medida das escovas limpa-vidros. Não fosse lá continuarem atascados uns quantos camiões, que afundaram na lama até assentarem o chassis, ninguém acreditaria nas dificuldades sentidas à ida. Quatro horas depois de ter partido de Soyo, cheguei na dianteira à Casa da Telha e virei à esquerda para M'Banza Congo, entrando num estradão largo e de óptimo piso, que sugeria uma viagem ainda mais rápida e descansada daí em diante. Teria sido bom, especialmente para os meus ossos e para os amortecedores da Hardbody, mas esta pista terminou em oito quilómetros, para dar lugar a uma velha estrada que outrora fora asfaltada. Não há nada pior que uma velha estrada de asfalto esburacada! Até Tomboco, a vila onde parámos para um oportuno piquenique, o caminho foi um crescendo de dureza, mas depois o traçado melhorou gradualmente, tornando-se mais suave e rolante. À medida que nos afastámos da linha da costa, a paisagem transformou-se, sucedendo-se a transposição de colinas e planaltos, ora com zonas densamente arborizadas, ora completamente despidas de árvores, como se por ali não houve lugar ao meio termo. Os 352 quilómetros desta jornada acabaram por demorar nove horas a esgotar-se, mas foi já com a noite a cair que alcançámos M'Banza Congo. Então, a prioridade foi atestar o depósito de combustível, perdendo mais de uma hora numa longa fila junto ao único posto de abastecimento, onde para além de todo o tipo de veículos, aguardavam a vez de ser atendidos dezenas e dezenas de peões, munidos de todo o tipo de vasilhame, desde jerricans a garrafões, passando por latas e garrafas. Tudo para ir a seguir vender na fronteira com a República Democrática do Congo, a 60 quilómetros dali, onde para além de escassearem, os combustíveis são significativamente mais caros. É com este negócio que vivem e sobrevivem muitas famílias na capital do antigo Reino do Congo...

A pista lamacenta foi traiçoeira para muitos camiões



2 comentários:

  1. Isto sim eu gostava de fazer!!! Pena não haver só de uns fins-de-semana e ter carro adequado para tal...

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  2. Em Angola, quem quiser divertir-se fora de Luanda aumenta muito as possibilidades se tiver um veículo de todo-o-terreno, seja um jipe ou uma pick-up. E quem não pode dispor de duas semanas seguidas, paciência, faz a viagem às prestações, um fim-de-semana e um destino de cada vez. Começe por subir de Luanda ao Soyo como nós fizémos e depois logo me diz. Não hesite em contactar-me se precisar de ajuda e de informações. E continue a encontrar-se por aqui. Um abraço!

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