Ao Acordar na Encantadora Fazenda Cabuta
DELÍCIAS DE UMA BELA NEGRA
[Texto e Fotos: Alexandre Correia]
Em cima, o terreiro onde são espalhados os bagos de café para secarem ao sol, depois de colhidos. Em baixo, pormenor de um recanto do jardim junto à capela, num recanto isolado da fazenda.
O português é uma língua muito traiçoeira e nem sempre o que parece é. Neste caso, lamento desiludir quem imaginava que eu ia aqui contar uma história de alcova, daquelas que às vezes se contam ao ouvido do melhor amigo, que depois a repete ao melhor amigo dele e por aí adiante, até rapidamente voltar ao nosso ouvido, pela confindência de outro amigo. Não, não vou revelar nenhum desses segredos que se espalham à velocidade com que um fósforo arde, porque Bela Negra é apenas... o nome sugestivo para o café robusta produzido na Fazenda Cabuta, enorme propriedade agrícola que se estende por cerca de 10 mil hectares de colinas verdejantes, forradas de cafezais e palmares. A não mais de meia hora de condução da vila de Calulo, sede de um dos municípios da província angolana do Kwanza Sul, a Cabuta é hoje considerada uma fazenda modelo para o programa de relançamento da produção de café em Angola, que depois de ter atingido um pico de 3,5 milhões de sacas em 1973, desceu até umas míseras 15 mil sacas de 60 quilos em 2004. Antes de ser ultrapassado pelo petróleo, em 1972, o café era o líder das exportações angolanas e se é certo que o "ouro negro" continuará ainda por muitos e longos anos a manter esta posição, também não é menos verdade que as autoridades angolanas têm vindo a manifestar o maior interesse em reconquistar um lugar com relêvo no mercado do café, prevendo que no final de 2009 se atinjam já as 200 mil sacas, das quais cerca de 9 mil deverão ser provenientes da Cabuta.
Para um apreciador de café como eu, foi uma agradável surpresa descobrir esta fazenda, recentemente reconvertida numa unidade de agro-turismo com 45 quartos distribuídos por cinco pólos, desde a casa principal apalaçada a anexos construídos propositadamente para a actividade hoteleira, passando por edifícios adaptados, como algumas casas que no tempo colonial eram residências dos funcionários da administração da propriedade. Cheguei de noite e no meio da escuridão mal consegui imaginar que mais do que o café, bela é mesmo esta fazenda. Pela manhã, claro que não dispensei algumas chávenas de Bela Negra, forte e de sabor intenso, mas imperdível foi mesmo o passeio pelos caminhos da fazenda, rolando alguns quilómetros entre alamedas de palmeiras enormes, geometricamente alinhadas ao longo das bermas, fornecendo a necessária sombra para proteger o cafezal do sol. Curiosamente, talvez não tenha sido por acaso que o encarregado da fazenda veio do Brasil, ou o maior país lusófono não seja o líder mundial inconstestado na produção de café desde que há registos , já lá vão cerca de um século e meio!
Para um apreciador de café como eu, foi uma agradável surpresa descobrir esta fazenda, recentemente reconvertida numa unidade de agro-turismo com 45 quartos distribuídos por cinco pólos, desde a casa principal apalaçada a anexos construídos propositadamente para a actividade hoteleira, passando por edifícios adaptados, como algumas casas que no tempo colonial eram residências dos funcionários da administração da propriedade. Cheguei de noite e no meio da escuridão mal consegui imaginar que mais do que o café, bela é mesmo esta fazenda. Pela manhã, claro que não dispensei algumas chávenas de Bela Negra, forte e de sabor intenso, mas imperdível foi mesmo o passeio pelos caminhos da fazenda, rolando alguns quilómetros entre alamedas de palmeiras enormes, geometricamente alinhadas ao longo das bermas, fornecendo a necessária sombra para proteger o cafezal do sol. Curiosamente, talvez não tenha sido por acaso que o encarregado da fazenda veio do Brasil, ou o maior país lusófono não seja o líder mundial inconstestado na produção de café desde que há registos , já lá vão cerca de um século e meio!
A combinação das actividades agrícola e turística permitiu abrir ao público uma das mais belas fazendas de café da região do Libolo. E quem tiver um todo-o-terreno, pode partir dali à descoberta de caminhos que levam ao encontro de paisagens incríveis, como espreitar o Cuanza do alto de uma falésia, ou descer ao rio junto à Ponte Filomeno da Câmara, construída em 1932 e hoje meio perdida das rotas mais usuais.
Um dos velhos armazéns da fazenda, com enorme telhado em chapa e paredes abertas para o ar se renovar com facilidade. Embora a fazenda se encontre a uma altitude considerável, atingindo os mil metros nos pontos mais altos, ali também se sente quando o calor aperta.
Vendedora percorre o bairro dos trabalhadores da fazenda com um cabaz de peixe seco do rio Cuanza à cabeça. Ao final da manhã, o cabaz já está vazio e em muitas casas será esse o prato principal do almoço...
Os 10 mil hectares da Fazenda Cabuta são recortados por quilómetros e quilómetros de caminhos de terra, quase sempre enquadrados em alamedas de palmeiras, que não só asseguram a necessária sombra para proteger os cafezais, como permitem complementar a actividade agrícola com a produção de Dendém, o famoso óleo de palma, indispensável no tempero da cozinha africana e asiática.