segunda-feira, 25 de maio de 2009


Ponte aérea para Cabinda.


Excursão a Cabinda
PASSEIO ENTRE AS FRONTEIRAS DOS CONGOS

[Texto e Fotos: Alexandre Correia]

Depois da enorme etapa desde Luanda ao Soyo, seguiram-se três dias de puro descanso para todos os participantes no Raid T.T. Kwanza Sul 2009, passados em Cabinda. Não era para ter sido assim, pois até ao último momento a organização desenvolveu todos os esforços para disponibilizar uma barcaça que pudesse transportar as Nissan Pickup Hardbody entre as duas cidades, mas assim que se perdeu a esperança de fazermos um pequeno “cruzeiro” desde o estuário do rio Zaire até à costa atlântica de Cabinda, imediatamente avançou o “plano B”: uma ponte aérea que mobilizou três aviões de nove a doze lugares, que em apenas quinze minutos estabeleceram a ligação de Soyo a Cabinda. Esta solução de recurso implicou mudar significativamente o programa, pois as Hardbody foram substituídas por um “magnífico” Tata de 54 lugares sentados — mais uma vintena em pé — cujo raio de acção estava, naturalmente, condicionado às estradas asfaltadas. Por outras palavras, durante três dias disse adeus ao todo-o-terreno e senti-me um perfeito excursionista, acompanhando o grupo de um lado para o outro do território de Cabinda, num passeio que decorreu, literalmente, entre as fronteiras com os dois Congos — a República do Congo, com capital em Brazaville, e a República Democrática do Congo, ex-Zaire, com capital em Kinshasa, uma em frente à outra, separadas apenas pelas águas do rio Zaire.
O programa da primeira destas três jornadas devia ser consagrado à navegação e ao embarque e desembarque das viaturas, operações que requeriam seguir as marés, mas em cima da hora não foi possível encontrar uma forma de preencher o tempo extra. Ganhei assim uma inesperada tarde livre, que só não foi passada na piscina do Hotel Por do Sol porque quando pensei nisso já não cabia dentro de água, tantos que eram os banhistas que aproveitaram o Domingo para confraternizar ruidosamente na dita. Uma caminhada pela marginal, nas imediações do hotel, ocupou algum tempo. Escrever e rever as imagens registadas também. Mas continuava a sobrar muito tempo e não resisti a fazer uma visita à cozinha do hotel, onde a Chefe Marta ficou encantada com a minha proposta de enriquecer a ementa do jantar confeccionando eu próprio uns crepes de lagosta. Trata-se de um prato particularmente desejado por alguns veteranos do Raid T.T. Kwanza Sul, que já na expedição anterior, de Luanda ao Cunene, muito suspiraram por degustar crepes de lagosta. Para que esta experiência tivesse sido um sucesso, teria sido necessário dispor de uma frigideira própria para crepes ou, em alternativa, com revestimento anti-aderente, que permitisse virar os crepes para fritá-los dos dois lados sem se desfazerem. Boa parte do preparado dos crepes foi gasto inutilmente a experimentar frigideiras umas atrás das outras, até que a Marta me trouxe uma pequena frigideira — a única ante-aderente que o hotel dispunha — própria para estrelar ovos, que deu para fazer uns quinze crepes, que foram mais ou menos partilhados pelos 39 comensais. Se não tivesse provado o creme de lagosta com alguns dos crepes que se desfizeram, ainda na cozinha, tinha-me contentado com meia dose. Soube bem, mas soube a pouco. Portanto, tratei logo de agendar nova visita à cozinha, que resultou numa ementa completa, para o almoço do terceiro dia, antes de repetir a ponte aérea de regresso ao Soyo. Neste caso, recomendei à cozinheira que comprasse chocolate para cozinhar e com as cinco barras que me arranjou fiz três bolos de chocolate que deixaram alguns apreciadores a babar-se, mais uma grande tigela de mousse de chocolate, que não deu para muitos provarem. E como os crepes de lagosta tinham sido tão bem aceites, mas tão difíceis de confeccionar, repeti o creme, mas apliquei-o numa lasanha, em camadas alternadas com espinafres salteados e regados por natas frescas. Quem provou não hesitou em considerar esta lasanha como uma referencia, a repetir sempre que possível; mas não haja falsas esperanças, porque desfazer quatro gordas lagostas para guarnecer um creme onde cozeram as folhas de lasanha é quase que proibitivo. Em Lisboa, um “pratinho” destes não custaria menos de 50 euros por cabeça, doseado com parcimónia... Isto não foi tudo. Uma refeição completa exige também um prato de carne e fiz uma guisado de vaca, à boa maneira portuguesa, que deixou os meus companheiros de viagem muito agradavelmente surpreendidos. E ainda mais ficaram quando, no fim do almoço, descobriram onde eu tinha passado a manhã inteira e a fazer o quê.
Pelo meio destas visitas à cozinha, ainda tive tempo para seguir na excursão através de Cabina e pude mesmo pôr um pé no Congo, ao visitar o posto fronteiriço de Massabi. A uma trintena de quilómetros de Ponta Negra, a mais importante cidade portuária do antigo Congo Francês, a fronteira de Massabi é a mais movimentada das várias passagens entre Cabinda e os dois Congos, por onde circulam diariamente para cima de uma centena de camiões pesados e muitíssimo mais viaturas ligeiras. Tudo se negoceia de um lado e do outro da fronteira, ora nos mercados montados junto aos postos, ora pela mão dos vendedores ambulantes que circulam por ali. Pode-se comprar desde uma mobília de sala completa a peixe seco, de DVD’s com os últimos êxitos musicais — que nos asseguram ser originais e não cópias chinesas, como que para justificar os caracteres chineses que exibiam nas capas — a máquinas eléctricas de aparar a barba, como me propôs um vendedor com evidente sentido de oportunidade, passando por diversos estilos de vestuário, calçado, adereços, quinquilharias e mercearias. Um verdadeiro centro comercial a céu aberto, ou protegido por toscas barracas de madeira e toldos esburacados. Fora do programa das visitas ficou a excursão até à floresta do Maiombe, onde abundam árvores com mais de 50 metros de altura de espécies raras como o Pau-Preto, Ébano, Sândalo Africano, Pau-Raro e Pau-Ferro. E claro, o famoso Pau de Cabinda, que os conhecedores e outros mentirosos asseguram ter efeitos notáveis na performance sexual masculina, não faltando quem jure conhecer alguém que experimentou e nunca mais quis outra coisa.


Sobrevoando o Estuário do Rio Zaire.


Uma das avenidas principais de Cabinda.


Os Jardim dos Papas, na marginal de Cabinda.


O Padrão português em Simulanbuco.


Praia de Landana. Vários quilómetros de areal.


Massabi, no posto fronteiriço com a República do Congo.


Floresta densa. Cabinda é rica em petróleo e madeiras preciosas.


Regresso ao Soyo, por cima da República Democrática do Congo.

6 comentários:

  1. OBRIGADA, ALEX, por partilhares connosco todas estas MARAVILHAS!!! Boa viagem!!!!!

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  2. OBRIGADA, ALEXANDRE, POR ESTE "CHEIRINHO" VISUAL TÃO AGRADÁVEL. BOM REGRESSO E MUITA SAUDADE.
    BJS

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  3. Não se arranja um naviozinho por aí? Mesmo que seja encalhado...

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  4. Com que então, na cozinha em Cabinda!Espantoso, Alexandre, não te conhecia esses teus dotes culinários e tive pena de não os ter testado. Ainda por cima, com os famosos crepes de lagosta tão amplamente rememorados via rádio no 3º Raid Kwanza Sul, de Luanda à Foz do Cunene. E mousse de chocolate? A minha alma está parva! Já terás regressado por esta hora e brevemente partilharemos esses contos e estórias, entre aventuras e desventuras em TT e TC (toda-a-cozinha) por terras de Angola.

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  5. Cumpri serviço militar no Massabi, em maio/junho de 1974.

    Manuel Filipe Quintas

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  6. Prestei serviço militar no morro de Sala Bendje( fronteira do Massabi) em Outubro 1974.
    2ª. C.Caç./4913
    Grato pelo post.
    Melhores cumprimentos.




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