O próximo é que vai ser...
ATÉ PARA O ANO!
[Texto e Fotos: Alexandre Correia]
Despedirmo-nos com um "até para o ano!" não tem, necessariamente, de ser um sinal de distanciamento. Sobretudo quando o dizemos três horas de virar a última folha do calendário. Para a esmagadora maioria das pessoas, é o momento do ano. É o momento mais esperado do ano. Amanhã é que vai ser! Tudo vai mudar! — tentam convencer-se, quase sempre sem convicção nenhuma. Hoje, quando me despedia dos almoços de 2009 com um esplêndido Cozido à Portuguesa — por incrível, é a maior e melhor sucedida das especialidades de um restaurante angolano que há na rua do meu escritório, secundado por uma feijoada...à brasileira — na dança por entre as travessas do bufete, não consegui deixar de escutar o comentário de uma senhora à sua amiga, bem elucidativo da fé que quase todos temos no futuro: "O que me vale é que este ano está mesmo a terminar" — dizia ela, prosseguindo — "Amanhã começo uma dieta. Estou com os níveis de colestrol altíssimos e tenho de perder cinco quilos. Esta semana é a segunda vez que venho aqui ao Cozido...". Eu só fui uma e não faço dieta nenhuma, mas sei tão bem como ela que enquanto as dietas só começarem amanhã, nunca perderá esses cinco quilos, porque amanhã será sempre isso mesmo: amanhã. Com os anos, não é bem amanhã. É para o ano. Temos um pouco mais de tempo, mais margem de manobra. Podemos vir mais umas vezes ao Cozido e até repetir o prato, carregá-lo com aqueles enchidos tão saborosos quanto venenosos, porque para o ano acabou-se, vamos fazer dieta. Ou vamos trabalhar mais, vamos deixar de mentir — abrindo apenas uma honorável excepção para as situações misericordiosas, porque não há regra sem excepção — vamos deixar de fumar, vamos tornar-nos tão puros como os três pastorinhos de Fátima, que até tinham um cão, um caniche vagabundo, que só há pouco tempo se descobriu que era o célebre e tão enigmático quarto segredo de Fátima. Vamos isso tudo... para o ano. E como tudo isso só vamos fazer para o ano, podemos até aproveitar para adiantar mais algumas promessas, porque não custa nada dizer que para o ano é que vair ser! Programamos para o ano aquela mudança em que tanto pensamos, mas não temos coragem de fazer, prometemos mudar de vida, para o ano. E o sucesso? Para o ano é que vai ser, porque este não valeu nada — desculpamo-nos com tanta frequência. É um alívio saber que haverá sempre um "para o ano". Porque até lá, vale tudo e mais alguma coisa. E nenhuma coisa vale alguma coisa, porque a sério, vai ser para o ano! Mas, claro, todos sabemos que se quisermos realmente fazer dieta, mudar a nossa vida, parar de fumar, acabar de estudar, arranjar outro emprego, não interessa o quê, não podemos esperar até para o ano. Temos de decidir agora. Não para o ano. Mesmo que só faltem três horas para isso acontecer! Mas para isso, temos também de ter coragem e força, muita força. É mais fácil dizer que temos medo, que não temos força. Bem mais fácil...
ATÉ PARA O ANO!
[Texto e Fotos: Alexandre Correia]
Despedirmo-nos com um "até para o ano!" não tem, necessariamente, de ser um sinal de distanciamento. Sobretudo quando o dizemos três horas de virar a última folha do calendário. Para a esmagadora maioria das pessoas, é o momento do ano. É o momento mais esperado do ano. Amanhã é que vai ser! Tudo vai mudar! — tentam convencer-se, quase sempre sem convicção nenhuma. Hoje, quando me despedia dos almoços de 2009 com um esplêndido Cozido à Portuguesa — por incrível, é a maior e melhor sucedida das especialidades de um restaurante angolano que há na rua do meu escritório, secundado por uma feijoada...à brasileira — na dança por entre as travessas do bufete, não consegui deixar de escutar o comentário de uma senhora à sua amiga, bem elucidativo da fé que quase todos temos no futuro: "O que me vale é que este ano está mesmo a terminar" — dizia ela, prosseguindo — "Amanhã começo uma dieta. Estou com os níveis de colestrol altíssimos e tenho de perder cinco quilos. Esta semana é a segunda vez que venho aqui ao Cozido...". Eu só fui uma e não faço dieta nenhuma, mas sei tão bem como ela que enquanto as dietas só começarem amanhã, nunca perderá esses cinco quilos, porque amanhã será sempre isso mesmo: amanhã. Com os anos, não é bem amanhã. É para o ano. Temos um pouco mais de tempo, mais margem de manobra. Podemos vir mais umas vezes ao Cozido e até repetir o prato, carregá-lo com aqueles enchidos tão saborosos quanto venenosos, porque para o ano acabou-se, vamos fazer dieta. Ou vamos trabalhar mais, vamos deixar de mentir — abrindo apenas uma honorável excepção para as situações misericordiosas, porque não há regra sem excepção — vamos deixar de fumar, vamos tornar-nos tão puros como os três pastorinhos de Fátima, que até tinham um cão, um caniche vagabundo, que só há pouco tempo se descobriu que era o célebre e tão enigmático quarto segredo de Fátima. Vamos isso tudo... para o ano. E como tudo isso só vamos fazer para o ano, podemos até aproveitar para adiantar mais algumas promessas, porque não custa nada dizer que para o ano é que vair ser! Programamos para o ano aquela mudança em que tanto pensamos, mas não temos coragem de fazer, prometemos mudar de vida, para o ano. E o sucesso? Para o ano é que vai ser, porque este não valeu nada — desculpamo-nos com tanta frequência. É um alívio saber que haverá sempre um "para o ano". Porque até lá, vale tudo e mais alguma coisa. E nenhuma coisa vale alguma coisa, porque a sério, vai ser para o ano! Mas, claro, todos sabemos que se quisermos realmente fazer dieta, mudar a nossa vida, parar de fumar, acabar de estudar, arranjar outro emprego, não interessa o quê, não podemos esperar até para o ano. Temos de decidir agora. Não para o ano. Mesmo que só faltem três horas para isso acontecer! Mas para isso, temos também de ter coragem e força, muita força. É mais fácil dizer que temos medo, que não temos força. Bem mais fácil...